Uma escolha: Pai ou Filho??? (03)



Se o jantar com Artur foi num lugar silencioso no céu, o almoço com Bruno foi no chão, no meio do caos.

Bruno marcou num lugar que Helena nunca teria encontrado sozinha. Era um pequeno bistrô italiano, espremido entre duas lojas de tecidos no centro velho. O lugar era barulhento, as mesas de madeira eram minúsculas e o cheiro de alho e manjericão dominava o ar.

Quando Helena chegou, Bruno já estava lá, numa mesinha perto da janela. Ele parecia terrivelmente jovem. Se o pai era um homem de ternos caros, Bruno estava de jeans e uma camisa de linho simples, com as mangas dobradas.

Ele se levantou de um salto, quase derrubando o copo de água.

Bruno: Helena! Oi. Achei que você ia se perder.

Helena: (sorrindo, sentindo o calor do lugar) Quase. Mas o cheiro me guiou. Aqui é... animado.

Bruno: É o meu refúgio. É o único lugar da cidade onde ninguém me chama de "Sr. Sá".

O garçom, um senhor baixo e bigodudo, deu um tapa amigável no ombro de Bruno. "E aí, menino? A de sempre?"

Bruno: Duas "de sempre", Luigi. Uma para a minha amiga aqui também. (Ele se virou para Helena). Confie em mim. É o melhor carbonara da sua vida.

Helena riu. O contraste com a noite anterior era quase cômico. Artur tinha pedido um vinho de mil reais. Bruno estava pedindo macarrão num lugar onde o garçom o chamava de "menino".

Bruno: (Ele parecia nervoso) Então... a papelada da engenharia. — Ele pegou uma pasta fina ao seu lado e a deslizou pela mesa. — Está tudo aí.

Helena: (Ela pegou a pasta, mas nem abriu) Certo. Obrigada, Bruno.

Um silêncio estranho caiu entre eles. A "desculpa" do trabalho tinha durado exatos trinta segundos.

Bruno: O jantar com meu pai... — ele começou, sem jeito. — Deve ter sido... intenso. Meu pai é intenso.

Helena: (Ela escolheu as palavras com cuidado) Foi muito... profissional. Seu pai leva o projeto do parque muito a sério.

Bruno: (Ele riu, mas sem humor) Meu pai leva tudo a sério. O "legado". A "empresa". A "marca". Às vezes eu acho que ele está mais preocupado em construir coisas para impressionar quem já morreu do que para quem está vivo.

Helena o encarou. Era uma frase dura. E reveladora. Ela se lembrou de Artur falando de sua falecida esposa, Lúcia.

Helena: Ele pareceu... solitário.

Bruno: (Ele baixou os olhos, mexendo num palito de dente) Ele é. Desde que minha mãe se foi, ele se enterrou na empresa. E agora ele quer que eu me enterre lá também.

O "carbonara de sempre" chegou. Eram duas travessas fumegantes que pareciam deliciosas.

Enquanto comiam, Bruno começou a falar. E não parou mais.

Ele não falou sobre "legado". Ele falou sobre ideias.

Bruno: Eu vi sua apresentação. E você estava certa sobre as árvores. Mas e o piso? Por que ninguém pensa no piso? — Ele pegou um guardanapo de papel e tirou uma caneta do bolso. — Olha.

Ele começou a desenhar. Rápido, com traços cheios de energia.

Bruno: E se, na área das crianças, a gente não usasse essa borracha feia? E se a gente usasse... sei lá, madeira plástica misturada com sensores? Para o chão fazer música quando elas pisam? Ou acender luzes?

Helena parou de comer. Ela se inclinou sobre a mesa, os olhos fixos no guardanapo.

Helena: Isso seria... caro.

Bruno: E daí? A gente dá um jeito. Seria mágico! Meu pai só pensa no "clássico", no "atemporal". Eu quero fazer algo que faça uma criança rir agora.

Eles passaram uma hora ali. Comeram rápido. Falaram sobre o parque, mas não como Artur e Helena falaram. Eles não falaram sobre "visão estratégica". Eles falaram sobre "sentimento".

Helena se viu rindo. De verdade.

Com Artur, ela se sentiu uma igual. Uma mulher adulta, jogando um jogo de poder e inteligência. Com Bruno, ela se sentia... leve. Ela se sentia a "arquiteta idealista" que ela era antes de ter que se preocupar com orçamentos e clientes.

Quando saíram do bistrô, o sol do meio-dia estava forte.

Bruno: (Ele coçou a nuca, parado na calçada) Obrigado por vir. E por... ouvir.

Helena: Eu adorei, Bruno. O macarrão. E a ideia do piso musical.

Bruno: (Ele sorriu, um sorriso largo que iluminou o rosto) É... você... você me inspira. O jeito que você falou naquela reunião... me deu coragem de desenhar isso. — Ele apontou para o guardanapo, que ele ainda segurava.

Helena o olhou. Ele era tão jovem, tão cheio de energia, tão diferente do pai.

A noite anterior tinha sido sobre poder e melancolia. Aquele almoço tinha sido sobre ideias e esperança.

Ela estava parada na calçada, exatamente no meio do caminho entre dois homens. Um pai que a via como uma "igual" para preencher seu vazio. E um filho que a via como uma "inspiração" para preencher seus sonhos.

E, pela primeira vez, Helena percebeu que estava num problema. Um problema muito sério.


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Ficha do conto

Foto Perfil mvoliveira
mvoliveira

Nome do conto:
Uma escolha: Pai ou Filho??? (03)

Codigo do conto:
247520

Categoria:
Heterosexual

Data da Publicação:
20/11/2025

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