No dia seguinte, sábado, aconteceria o "Baile de Gala da Construção". Era o evento mais importante do ano. Todo mundo que era importante na cidade estaria lá. Mulheres compravam vestidos caros, homens alugavam smokings, e o escritório só falava disso.
Helena estava na sua mesa, tentando se concentrar num desenho de um jardim vertical, mas estava difícil. O telefone não parava de tocar.
Foi quando Bruno apareceu.
Ele estava com um copo de café na mão e parecia nervoso. Ele olhou para os lados para ver se ninguém estava ouvindo e se encostou na mesa dela.
Bruno: Ei. Trabalho duro?
Helena: (Sorrindo, tirando os óculos) Tentando. Mas parece que hoje ninguém quer trabalhar, só falar dessa festa.
Bruno: É... o famoso Baile. — Ele fez uma careta. — Geralmente é um tédio mortal. Um monte de gente velha falando de dinheiro e comendo canapés frios.
Ele tomou um gole de café, criando coragem.
Bruno: Olha, Helena... eu tenho que ir. Obrigação de família, sabe como é. Mas eu não queria ficar lá sozinho, encostado na parede, ouvindo os amigos do meu pai falarem de economia.
Helena: Entendo.
Bruno: (Ele respirou fundo) Você vai, né? Como parte da equipe.
Helena: Sim, recebi o convite do RH.
Bruno: Então... o que você acha de ir comigo? Quer dizer... a gente podia sentar junto. Rir um pouco da gravata borboleta do Vargas. Se você estiver comigo, talvez a noite não seja tão chata. Talvez seja até... divertida.
Helena olhou para ele. Os olhos de Bruno brilhavam com aquela esperança de menino. Ela se lembrou do almoço, das risadas, do guardanapo desenhado. Estar com Bruno era leve.
Helena: (Ela sorriu) Salvar você do tédio? Parece uma boa missão. Tudo bem, Bruno. A gente se encontra lá e fazemos companhia um ao outro.
Bruno abriu um sorriso enorme, de orelha a orelha.
Bruno: Combinado! Você não vai se arrepender. Vou até tentar não pisar no seu pé se a gente dançar.
Ele saiu quase saltitando. Helena riu sozinha e voltou para o desenho. Ele é um doce, pensou.
Dez minutos depois, o telefone da mesa dela tocou. Era a secretária pessoal da presidência.
"Senhorita Helena? O Sr. Artur quer vê-la na sala dele. Agora."
O sorriso de Helena sumiu. "Na sala dele" nunca era coisa boa.
Ela pegou seu caderno e foi. A sala de Artur, como sempre, estava gelada. Ele estava de pé, olhando para a janela, observando a cidade lá embaixo. Ele não se virou quando ela entrou.
Artur: Feche a porta, Helena.
Ela obedeceu. O clique da porta fechando soou alto demais.
Helena: O senhor queria falar comigo? Aconteceu algo com o projeto?
Artur se virou. Ele estava impecável, como sempre. Mas havia algo diferente no olhar dele. Uma decisão tomada.
Artur: Não é sobre o projeto. — Ele caminhou até ela, parando a uma distância respeitosa, mas próxima o suficiente para ela sentir o perfume dele. — Amanhã é o Baile de Gala.
Helena: Sim, senhor. Eu vou comparecer.
Artur: Eu sei que vai. Mas não quero que vá como uma funcionária que fica no fundo do salão.
Helena franziu a testa, confusa.
Artur: Há anos eu vou a essas festas sozinho. Entro sozinho, sento na mesa principal sozinho, recebo os prêmios sozinho. As pessoas me respeitam, mas elas têm medo de mim. — Ele a olhou nos olhos, com intensidade. — Eu cansei de ir sozinho, Helena.
O coração de Helena começou a bater muito rápido. Ela sabia o que viria a seguir.
Artur: Quero que você entre comigo. No meu braço. Quero que sente ao meu lado na mesa da presidência.
Helena: (Gaguejando um pouco) Sr. Artur... eu... isso não seria estranho? Eu sou apenas a arquiteta paisagista. O que vão falar?
Artur: Deixe que falem. Você é a primeira pessoa em dez anos que me fez ver o futuro desta empresa com otimismo. Você é inteligente, elegante e... — ele hesitou, baixando a voz — ...eu gosto da sua companhia, Helena. Gosto muito. Aceite o convite. Não como chefe, mas como... Artur.
O silêncio na sala era pesado.
Helena estava em pânico.
Vinte minutos atrás, ela tinha prometido a Bruno que seria a "cúmplice" dele, que eles ficariam juntos no fundo do salão rindo dos velhos de terno. Agora, o pai de Bruno, o dono de tudo, estava pedindo — quase implorando — para ela ser a rainha da noite ao lado dele, na mesa principal.
Se ela aceitasse o convite de Artur, quebraria o coração de Bruno e o deixaria sozinho no canto. Se ela recusasse Artur para ficar com Bruno, estaria dizendo "não" para o homem mais poderoso da cidade, um homem que estava abrindo o coração para ela.
Helena: Artur... eu...
Artur: Não responda agora. — Ele percebeu a hesitação dela e recuou, voltando a ser o estrategista. — Pense. Mas eu mandarei o motorista te buscar às sete. Espero que você entre naquele carro.
Ele voltou para sua mesa, encerrando a conversa.
Helena saiu da sala tremendo. Ela caminhou até o banheiro, trancou-se numa cabine e encostou a testa na porta fria.
Ela tinha dois convites para a mesma noite. Um oferecia diversão, carinho e futuro. O outro oferecia poder, maturidade e um mundo novo.
E amanhã à noite, quando ela chegasse à festa, um dos dois homens ficaria vendo-a nos braços do outro. E o pior: eles eram pai e filho.