— Você está tensa, Vera. — A voz de André era baixa, quase um segredo compartilhado. Ele estendeu a mão sobre a mesa, os dedos roçando o pulso dela. — Primeira vez?
A pergunta foi um tiro no escuro que acertou o alvo. Clara sentiu o coração disparar. Se ele percebesse que ela era uma amadora, uma dona de casa desesperada, a magia quebraria. O valor cairia.
Ela puxou a mão devagar, não rejeitando o toque, mas conduzindo-o. Sorriu, inclinando a cabeça de forma felina. — Primeira vez com alguém que parece valer a pena, André. O nervosismo é... antecipação.
Ele riu, satisfeito, o ego massageado. André era um homem acostumado a comprar coisas, e Clara percebeu que ele gostava de sentir que estava fazendo um bom negócio, adquirindo algo exclusivo.
— Vamos subir? — ele sugeriu, os olhos fixos no decote dela. — A conversa está ótima, mas a minha imaginação está correndo solta.
Clara assentiu, terminando o vinho num gole só. O álcool bateu rápido no estômago vazio, dando-lhe a coragem artificial de que precisava.
O trajeto no elevador foi um vácuo de silêncio carregado de eletricidade estática. Estavam sozinhos. André não esperou chegar ao quarto. Ele a prensou suavemente contra o espelho do fundo da cabine. As mãos dele, grandes e quentes, seguraram a cintura dela com firmeza, puxando o corpo de Clara contra o dele.
Ela sentiu a rigidez do pau dele contra o seu umbigo através do tecido fino do vestido. Por um segundo, o instinto de "Clara" foi empurrá-lo e correr para casa, para a segurança de sua cozinha. Mas "Vera" assumiu o controle. Ela levou as mãos aos ombros dele, sentindo a textura do terno caro.
— Calma... — sussurrou ela no ouvido dele, mordiscando o lóbulo. — Temos a noite toda. E a noite tem um preço.
A porta do elevador se abriu no 15º andar. O corredor acarpetado abafou os passos deles até o quarto 1504.
Ao entrarem, o luxo do quarto era estonteante, mas Clara só conseguia olhar para a cama king size com lençóis de linho branco. Era o altar onde ela sacrificaria sua antiga identidade.
André tirou o paletó e afrouxou a gravata, o olhar faminto. — Você disse que negociaríamos o resto aqui — ele disse, a voz mais grossa. — Quero você a noite toda. Quero que faça tudo o que eu pedir. Quanto?
Clara respirou fundo. Lembrou-se do valor exato do boleto. Lembrou-se da vergonha de pedir dinheiro emprestado. Ela olhou nos olhos dele e ditou as regras. — Três mil reais. Além do jantar. E eu saio antes do amanhecer.
André nem piscou. — Feito. — Ele foi até a carteira sobre a mesa, tirou um maço de notas e colocou sobre a cabeceira. — Agora, vem cá.
Quando ele a beijou, não foi como os beijos mornos e familiares de seu falecido marido. Foi um beijo urgente, com gosto de uísque e posse. Clara fechou os olhos. Desligou a mente.
As mãos dele desceram o zíper do vestido. O tecido de seda deslizou pelo corpo dela, caindo no chão como uma poça escura. Ela ficou apenas com a lingerie de renda preta e os saltos altos. A expressão de André foi de pura adoração profana.
— Meu Deus... você é espetacular — ele murmurou, ajoelhando-se diante dela.
O que se seguiu foi uma coreografia de pele e suor. Clara não precisou fingir tanto quanto imaginava. O corpo humano tem memória, e o dela estava adormecido há tempo demais. Quando as mãos dele percorreram suas coxas e sua boca encontrou a pele sensível do pescoço dela, um gemido escapou — metade teatro, metade uma resposta involuntária ao toque que ela, como mulher, também ansiava, mesmo que odiasse a circunstância.
Na cama, ela assumiu o comando em certos momentos, cavalgando sobre ele, os cabelos soltos caindo sobre o rosto, escondendo suas expressões reais. Ela usava o prazer dele como escudo. Quanto mais rápido e intenso fosse para ele, mais rápido acabaria para ela.
Mas havia algo perturbador acontecendo. Enquanto sentia o corpo dele se mover dentro do dela, Clara percebeu que não sentia nojo. Sentia poder. Aquele homem rico, poderoso, estava completamente rendido, gemendo o nome que ela inventara. "Vera" tinha o controle absoluto.
Quando ele finalmente gozou, colapsando sobre ela com a respiração pesada, Clara ficou imóvel, olhando para o teto de gesso trabalhado, sentindo o suor dele esfriar sobre a pele dela. O quarto estava silencioso, exceto pelo zumbido do ar condicionado.
André rolou para o lado, exausto e sorridente. — Isso foi... incrível. — Ele tocou o rosto dela com uma ternura que Clara não esperava. — Você vale cada centavo, Vera.
Clara se levantou rapidamente, enrolando-se no lençol. A frase "vale cada centavo" a atingiu como um balde de água gelada, lembrando-a de sua posição. Ela não era uma amante; era um produto.
— Vou tomar um banho — disse ela, recolhendo suas roupas espalhadas pelo chão com uma dignidade apressada.
No banheiro, sob a água fervente, ela esfregou a pele até ficar vermelha, tentando tirar o cheiro de uísque e perfume masculino. Mas ao se olhar no espelho embaçado, viu que seus olhos brilhavam. Ela tinha conseguido.
Ao sair do banheiro, vestida novamente, André já dormia profundamente. O maço de dinheiro estava na cabeceira, ao lado do relógio de ouro.
Clara pegou as notas. Eram quentes e reais. Quatro mil e quinhentos reais no total, somando o jantar. Quase metade da dívida.
Ela olhou para o homem adormecido uma última vez, sentindo uma estranha gratidão misturada com desprezo, e saiu do quarto, deixando "Vera" para trás, mas levando o dinheiro que salvaria o futuro de Lucas.