As Aventuras do Detetive Peçanha. (04)

Na manhã seguinte, o sol apareceu, mas o ar continuava pesado. Peçanha tomou um café preto para acordar o corpo dolorido de dormir no carro e voltou a vigiar.

Às nove horas, o portão da mansão se abriu.

O carro preto blindado saiu devagar. No volante estava Marcos, o motorista. 28 anos, bonito, forte, com braços que enchiam a manga do terno.

Eles pararam na frente de uma loja chique. Marcos desceu rápido para abrir a porta de trás. Verônica saiu. Ela usava um vestido cinza que terminava um pouco acima do joelho.

Quando ela saiu do carro, a saia subiu um pouco. Foi rápido, mas foi o suficiente.

Peçanha viu a reação de Marcos. O motorista não olhou para a rua. Ele cravou os olhos nas pernas dela, subindo o olhar pelas coxas até onde o vestido escondia o resto. Ele mordeu o lábio, engolindo em seco. Não era um olhar de funcionário. Era um olhar de homem faminto, imaginando o gosto daquela pele.

— Tá com sede, garoto? — sussurrou Peçanha, sentindo ele mesmo o calor da cena.

Marcos ficou encostado no carro enquanto ela entrava na loja. Ele levou a mão ao bolso da calça, inquieto, ajeitando-se. A presença dela deixava o rapaz excitado, visivelmente perturbado.

Peçanha precisava ver o que mais aquele moleque escondia.

Mais tarde, quando Marcos largou o serviço e foi para casa com sua moto, Peçanha o seguiu. O motorista morava num apartamento pequeno. Assim que Marcos saiu de novo para a noite, Peçanha invadiu.

O quarto de Marcos cheirava a hormônios e desodorante barato. Peçanha foi direto para debaixo da cama e puxou uma caixa de papelão.

Ao abrir, o detetive soltou um assobio baixo.

Não eram apenas fotos. Era um santuário de obsessão.

Havia dezenas de fotos impressas. A maioria tirada pelo espelho retrovisor do carro, focando no decote de Verônica quando ela se inclinava para frente. Outras mostravam as pernas dela cruzadas no banco de trás, com um zoom exagerado na meia-calça.

Mas tinha mais. Peçanha encontrou uma calcinha de renda preta, usada, escondida no fundo da caixa. Provavelmente roubada da lavanderia da mansão. Marcos devia dormir cheirando aquilo, imaginando que tinha a patroa na cama dele.

Peçanha sentiu uma pontada estranha. Ver aquelas fotos, aqueles ângulos proibidos do corpo dela... era excitante. Verônica era uma mulher que fazia qualquer homem perder o juízo.

O detetive pegou um caderno que estava junto das fotos. Esperava encontrar os rascunhos das cartas elegantes e pervertidas.

Abriu a primeira página.

"Gostosa. Hoje ela tava sem sutiã. Queria rasgar aquele vestido."

Peçanha franziu a testa. A letra era feia, garranchos grosseiros de quem mal pegava numa caneta. E o texto era vulgar, direto, sem classe nenhuma.

O autor das cartas que Verônica recebia era um poeta do erotismo, alguém que falava de alma e desejo. Marcos era só um animal no cio. Ele queria o corpo dela, mas não tinha a mente para escrever aquelas ameaças sofisticadas.

— Não é você — disse Peçanha, jogando a calcinha de volta na caixa com nojo e fascinado ao mesmo tempo. — Você é só mais um que quer comer a patroa.

Peçanha saiu do apartamento. Marcos era inocente das cartas, mas culpado de desejo.

O mistério continuava. O verdadeiro perseguidor era alguém mais inteligente. E isso deixava tudo muito mais perigoso.