Verônica ligou para Peçanha às quatro da tarde, com a voz trêmula. Ela tinha ido à academia exclusiva do clube, onde só entra gente com muito dinheiro e biometria. Quando abriu seu armário no vestiário, o envelope creme estava em cima das suas roupas limpas.
Peçanha foi encontrá-la no estacionamento do clube. Verônica estava pálida. Ele pegou a carta e leu. A letra bonita e maldita estava lá de novo:
"Minha Verônica,
Hoje à noite, eu quero ver você. Vá até o mirante da Estrada Velha, à meia-noite em ponto. Vá sozinha. Use aquele vestido preto de seda que você comprou mês passado.
E mais um detalhe: não use nada por baixo dele. Eu quero saber que você está pronta para mim.
Se não for, seu marido receberá as fotos amanhã no café da manhã."
Peçanha amassou o papel com raiva. O stalker tinha acesso ao clube. Podia ser qualquer um.
— Qual é o plano? — perguntou Verônica, abraçando os próprios braços.
Peçanha assumiu o comando.
— Você vai. Não podemos arriscar que ele mande as fotos pro seu marido agora. Mas você não vai estar sozinha. Eu vou chegar uma hora antes e esconder meu carro no meio do mato. Vou estar com a mira na cabeça dele. Assim que alguém se aproximar de você, eu pego o desgraçado.
Verônica concordou, mas seus olhos mostravam pavor.
...
A noite caiu e o céu desabou. Uma chuva grossa e gelada cobriu a cidade.
Peçanha chegou ao mirante às onze da noite. Escondeu o carro numa entrada de terra, cobriu o capô com galhos e ficou esperando. O lugar era deserto, escuro, apenas o barulho da chuva e do vento nas árvores.
À meia-noite, os faróis do carro de Verônica cortaram a escuridão. Ela estacionou no ponto combinado.
Ela desceu do carro. Obediente à carta, usava apenas o vestido preto de seda fina e um casaco por cima, segurando um guarda-chuva que o vento logo virou do avesso. Ela largou o guarda-chuva e ficou lá, exposta.
Dez minutos. Vinte. Trinta.
Ninguém apareceu.
Peçanha, de dentro do seu esconderijo, percebeu a jogada. Não haveria encontro. O stalker estava em algum lugar quente e seco, talvez assistindo por uma câmera remota, ou talvez nem estivesse lá. O objetivo era humilhar Verônica. Era fazê-la esperar, nua por baixo do vestido, sentindo frio e medo. Era um jogo de poder sádico.
Verônica começou a chorar. Ela tremia tanto que mal conseguia ficar em pé.
Peçanha não aguentou mais. Dane-se o plano.
Ele arrancou com o carro, cantando pneu na lama, e parou bruscamente ao lado dela. Abriu a porta do passageiro.
— Entra! Agora!
Verônica se jogou para dentro do carro velho.
O choque térmico foi imediato. O carro estava com o aquecedor ligado, quente e abafado. Verônica estava encharcada, gelada.
Ela tirou o casaco molhado e jogou no banco de trás. Foi quando Peçanha travou.
A seda preta molhada tinha ficado transparente. O vestido estava colado no corpo dela como uma segunda pele, desenhando cada curva. E ela tinha obedecido a carta: não usava sutiã. Os mamilos estavam duros pelo frio, marcando o tecido, visíveis e provocantes. E, pela curva dos quadris, Peçanha sabia que ela também estava sem calcinha.
— Ele não veio... — ela soluçou, o rímel escorrendo pelo rosto. — Eu fiz tudo o que ele mandou, Peçanha. Eu vim... pronta.
A palavra "pronta" ficou suspensa no ar.
O cheiro de chuva fria que vinha dela se misturou com o cheiro de couro e tabaco do carro. Os vidros começaram a embaçar rapidamente com a respiração ofegante dos dois.
Peçanha tentou ser profissional.
— Ele queria te testar, Verônica. Queria ver você submissa.
Verônica virou o rosto para ele. O medo nos olhos verdes dela começou a mudar. Virou adrenalina. Virou necessidade. Ela estava vulnerável, exposta, e a única coisa sólida ali era aquele homem bruto ao lado dela.
— Eu estou com frio — sussurrou ela, aproximando-se. — Me esquenta.
Ela não esperou. Verônica levou a mão gelada ao pescoço de Peçanha e puxou o rosto dele para o dela.
O beijo foi uma explosão. Não teve carinho. Teve desespero.
Peçanha sentiu a boca dela quente e úmida contra a dele. O gosto era de lágrimas e desejo. Ele tentou recuar por um segundo — ela era a cliente, era casada — mas o corpo de Verônica se esfregou no dele. Sentir aquela seda molhada roçando em sua roupa foi o fim da resistência.
Ele rosnou e agarrou a cintura dela com força. A mão grande de Peçanha apertou a coxa dela, subindo pelo vestido molhado. A pele dela estava fria, mas queimava onde ele tocava.
— Isso... — ela gemeu na boca dele quando a mão áspera de Peçanha tocou a parte interna da coxa, subindo sem encontrar a barreira da calcinha. — Tira esse medo de mim, Peçanha.
Ele a puxou para o seu colo, o banco do motorista rangendo com o peso. Verônica sentou-se sobre ele, o vestido subindo, a pele nua das coxas dela em contato direto com a calça jeans dele.
Ali, dentro daquele carro embaçado, isolados do mundo pela chuva, a caçada ao stalker foi esquecida. Só existia a urgência de dois corpos se encontrando, buscando alívio para a tensão insuportável daquela noite.