Rafael não era apenas um padeiro talentoso; ele era uma tentação ambulante. Usava o uniforme branco de linho fino, quase transparente no calor do forno, realçando a pele bronzeada e os braços torneados que se moviam com uma precisão hipnótica sobre a bancada. Quando ele amassava a massa, os músculos do antebraço saltavam, e era difícil desviar o olhar. Suas "mãos de ouro" eram famosas por dar forma ao pão perfeito e, ao que parecia, também ao desejo.
Catarina, a herdeira da família, sentia essa atração mais do que qualquer um. Seu escritório, no mezanino, dava uma visão privilegiada da padaria. Ela deveria estar revisando planilhas de estoque, mas passava mais tempo observando Rafael. Seu terno de corte impecável e o coque de cabelo apertado eram a armadura que ela usava para esconder a eletricidade que sentia.
Ela desceu à área de vendas, caminhando com a pose de quem inspeciona um império. Mas parou justamente onde o calor da fornalha era mais forte.
"Me diga, Rafael," ela começou, a voz baixa para soar profissional, mas carregada de intenção. "Qual é a obra-prima de hoje?"
Ele virou-se. O suor fino na testa só o tornava mais bonito. Seus olhos castanhos encontraram os dela com uma insolência que só um funcionário lindo e talentoso podia se permitir.
"Hoje é o Pão da Meia-Noite, Sra. Catarina," ele respondeu, a voz rouca. Ele o pegou da prateleira, o pão era grande, com uma crosta escura e lustrosa, quase pecaminosa. "É longo e lento na fermentação. Precisa de paciência, mas quando está pronto... Ah, ele vicia."
Catarina sentiu a alusão sensual do ar. O homem não estava falando só de pão.
Ele quebrou um pedaço da crosta para ela, e o som seco ecoou na quietude momentânea da loja. O aroma de noz-moscada e mel escuro atingiu-a como um choque. Ele estendeu o pedaço, fazendo um ponto de honra em roçar o dorso da sua mão no pulso dela.
Catarina segurou a respiração, sentindo o calor da pele dele e a rudeza da massa nas pontas dos dedos. Ela levou o pão à boca. O sabor era intenso, quase demais.
"É perigoso, não é?" ela murmurou, mais para si mesma do que para ele.
O sorriso dele se alargou, e ele se inclinou ligeiramente, diminuindo o espaço entre eles até que ela pudesse sentir o cheiro de farinha e suor.
"O que é bom sempre é perigoso, patroa," ele sussurrou, a palavra final quase um gracejo. "O perigo está na cozinha, e ele está faminto."
Antes que Catarina pudesse responder, a porta dos fundos se abriu com um estrondo. Um dos balconistas, sem querer, derrubou uma pilha de caixas, e um maço de jornais velhos usados para embalagem se espalhou pelo chão. A capa, meio amassada, trazia uma foto grande e a manchete: "EXECUTIVO FORAGIDO EM ESQUEMA DE LAVAGEM DE DINHEIRO".
A mudança em Rafael foi imediata e chocante.
O charme e a confiança sumiram num piscar. Ele ficou pálido, e seus olhos caíram sobre os jornais no chão como se fossem um par de algemas. Por um breve e terrível segundo, Catarina viu o pânico em estado puro. Ele agarrou a primeira caixa vazia que viu e apressou-se em cobrir o caos dos jornais, o corpo tenso, as "mãos de ouro" tremendo.
"Rafael, o que foi?" Catarina se aproximou, preocupada, mas a excitação que ele havia despertado ainda reverberava nela.
Ele não a olhou. "Nada. Pó. Tem muito pó aqui," ele resmungou, a desculpa fraca e apressada. "Preciso de um banho de vapor no forno." E ele deu meia-volta, praticamente fugindo para a sala de preparo, deixando Catarina sozinha com a certeza: aquele homem era lindo, intenso, e carregava um segredo perigoso.